"Então, foi assim, eu me senti
sem você...”
Eu moro sozinho faz praticamente uns
dez anos, vivo muito bem, obrigado! Mesmo que não tenha uma vida de classe
alta, carro do ano na porta ou apartamento próprio, posso me orgulhar de uma
coisa: trabalho com o que eu gosto, e o que eu gosto é de escrever. Escrever
não é nenhuma arte, basta uma idéia, depois vêem as letras, palavras, frases,
parágrafos e pronto, você tem um texto ou um livro. Simples assim.
Foi em um
dia em particular que eu me dei conta dos dez anos que passaram, foram dez
anos... Era dia 11 de fevereiro de 2007, tinha acabado de pegar uma garrafa de
dois litros que um dia foi de refrigerante e agora é aproveitada como vasilhame
de água. Enchi um copo e me lembrei que faz dez anos que eu não o via mais...
Senti saudades, peguei nossas coisas antigas que até hoje eu guardo - aposto
que ele jogou tudo fora. Tanto que tinha para lhe falar, para pedir, para
implorar... Foram os dez anos, mas tenebrosos possíveis para a minha vida
amorosa. Fico pensando se alguém consegue ficar dez anos na mesma merda por
alguém... Acho que não, devo ser uma raridade nesse mundo imundo. Não... Não
posso pensar que sou assim e que, mas ninguém no meio de bilhões de pessoas
tenha sentido isso, parece que isso me conforta.
Ele não sabia que em dez anos não
tive um namorado que durasse mais de três meses, não amei mais ninguém como eu
o amei, não parei de pensar nele e nem de pensar em procurar. Sai da cozinha,
fui até a sala onde estava o computador. Por sorte o e-mail dele ainda seria o
mesmo, o meu ainda era. Mandei um e-mail marcando um encontro. Dez anos mais
tarde, será que ainda era o mesmo? Será que realmente as pessoas não mudam,
será? Será? Então, tive resposta do e-mail, era um “ok”; e apenas isso. Senti
um tanto estúpida aquela resposta, mas não dei importância. Na mensagem, ele
confirmava a hora e local marcado por mim, mas já bastava saber que ele ia.
Era hoje e eu estava tremendo,
coloquei uma roupa bonita, blusa amarela e calça jeans comprada para ocasião. Pois
ele gostava quando eu usava calça, o que era raro. Passei por uma rua onde um
motorista havia atropelado um motoqueiro; aquele bando de urubus em cima, não
tem coisa que eu mais detesto que um bando de gente em cima de alguém que se
acidentou. O que é aquilo? Preocupação? Não... É prazer pela desgraça! Passo
reto e não olho...
O bar não era nada de luxuoso, tinha
lá seus garçons, suas mesas de madeira e sua pintura artística; se é que aquilo
possa ser chamado de arte. Ele chegou de terno, gravata... Devia ser alguém
importante. Olhou para mim profundamente, parecia que ia me comer ali mesmo,
abri a boca e achei melhor me calar. Ele pediu algo para beber, então
bebemos... Ficamos nos olhando durante muito tempo... Ele era o mesmo, o mesmo
calado de sempre, lindo, parece que estava cada dia mais lindo! Dez anos
fizeram bem para ele. Olhei-me pelo
vidro do bar e vi meu reflexo; dez anos pareciam cinqüenta... Ainda não
acreditava que aquele encontro estava acontecendo depois de dez anos, um e-mail
fez aquilo, um maldito e-mail, e nem que ele não mudara, nem eu. Bebi um pouco,
então ele me olhou e disse que eu devia falar o que tinha para falar, pois ele
tinha horário e todo tempo comigo era precioso. Fiquei ali olhando...
Silêncio,
silêncio e mais silêncio.
Fiquei sem coragem alguma para abrir a
minha boca, estava à frente do grande amor da minha vida, o homem da minha vida,
e não tinha coragem de falar que o amava, que o queria para mim e que não suportaria
mais essa ausência! Não tive. Ele
repetiu a mesma pergunta: O que você quer comigo? Eu não respondi. Ele
levantou, deixou-me seu telefone novo, e eu vi saindo pelo vidro... Virei-me
para mesa e disse “eu te amo” baixinho nas costas dele, tarde demais. No
passado, eu já o tinha segurado e falado tudo, mas dessa vez o silêncio me consumiu.
Saí do bar, me deparei com outro
acidente, e então comecei a chorar. Pensei ter ouvido meu nome, olhei para trás,
e nada. Deveria ser alguém soprando no meu ouvido que me amava, alguém que não
existia ou era a minha memória me pregando peças novamente; um bando de
besteiras. Voltei para casa, liguei a TV, e não acreditei no que vi, mas era
real...
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