quinta-feira, 29 de abril de 2021

DOE, CORROE E MATA


Essa carta é sobre coragem e claro, medo. E uma tentativa de explicar para você o quanto é doloroso pra mim viver tudo que estou vivendo.

Desde que esse processo começou eu sempre peço que o universo me de forças para seguir contrariando o que eu sempre ouvi, que me de paciência... 

Eu tinha um sonho sabia? Um não. Dois. O primeiro era ser ator e o segundo, professor, vivi uma vida ouvindo que não faria nenhum dos dois. Ouvi que era péssimo. Ouvi gargalhadas. Ouvi tanta coisa. Não, não dá fazer como você diz: Deixa isso pra lá. Está vivo, pulsante na minha pele.

O que uma pessoa como eu, tinha para dizer sob um palco? Aquele era um lugar sagrado, dos atores. Não pra mim. Nunca pra mim.

Isso me fode. Lidar com toda a rejeição.

Eu tinha a resposta simplificada para essa questão,  mas ela abafada por tanto tempo. que as palavras foram se acumulando, se misturando com outras e se transformaram em muitas obras que escrevi. Hoje, ela é um texto vivo, de diversas paginas, sem permissão de resumo.

A vida não previne resumos. Abismo não é a melhor coisa que eu já escrevi mas talvez seja a coisa que eu mais gosto, por que nele, sou todos os papeis em um lugar só. Sou mocinho, vilão, protagonista, coadjuvante e figurante... 

Foi a música que me deixou pisar nos palcos. Ela me abriu uma janela. Foi ela que me deu o desejo de me aventurar por tudo que eu hoje faço, eu decidi em julho, aos 17 anos, enfrentar toda a minha família e partir em busca do meu sonho: de ser artista e principalmente, de atuar.

20 depois, eu consegui.

O que eu sinto, hoje é medo e um desejo maluco de desistir. Passo umas noites tentando me conectar comigo de anos atrás... blackbird me responde, o passado nunca mais. 

Talvez, ninguém entenda isso. Não tenho medo de expor minha vida, falar da violência é comum, o que assustam todos, eu vivo até hoje. 

É tão comum como dormir e acordar...

Meu medo é de expor meu corpo, minha alma, meu coração e todo o meu amor por esse ofício. Sou um chato. Eu levo a sério tudo. Por que é preciso se importar.  Isso é sobre coragem e é isso que você precisa entender. Estou enfrentando uma legião e de alguma forma, eu vou vencer e sei que é com sua ajuda.

Mas doe. Me dá gatilho. Me dá medo. Me dá vontade de te machucar. Dizer coisas ruins de propósito, de gritar, de quebrar tudo. Doe segurar esse Betinho que quer destruir tudo, ele existe e vai morrer comigo, só preciso domar ele melhor.

Essa é uma carta inexplicável mas que me da esperanças de que ainda posso realizar meus sonhos e que eu quero que você esteja lá nos que der para você estar.

Mas é também para reler quando tudo acontecer e pra ver que bom ou ruim... eu com a ajuda de muitas mãos, finalmente venci.

Vamos vencer. Sempre.