Eu sou um estranho. Um estranho de em mim mesmo. Como aquele
senhor que todo o dia pega o ônibus, no mesmo horário e o mesmo número, ele
sempre com a sua bengala preta e sempre sorrindo. Sou um estranho que começou a
gostar de estar sozinho, redescobrindo e editando alguém que eu deixei lá
atrás.
Um menino que brinca de ser gente grande, colocando chapéus,
falando palavras difíceis, bebendo bebidas fortes, pensando em projetos grandes
e sonhando com alguma coisa que me faça acalmar e que faça controlar esse leão
vivo nas minhas entranhas, um menino brincando de ser gente grande, um menino.
Aquele que sabe perdoar e que tenta esquecer as fúrias dos
terremotos passados e quando falo em perdão ouço berros da minha mãe, dizendo
que não devemos perdoar, eu perdoo. Perdoo por que não sei quando precisarei
ser perdoado por alguém que amo e jamais quero perder.
Sou um estranho fora da casca, sensível ao cheiro de uma
rosa, sensível aos maus que o mundo pode causar, hoje eu posso sentir a brisa
do vento, ver como ela balança a arvore, olhar as folhas verdes, como elas se
movem, é tudo e nada, nada e tudo, fora da casca.
Fechando os olhos, sonhando acordado, lutando contra o meu
pior inimigo, eu mesmo, esse eu egoísta, babaca, idiota e orgulhoso. Essa
briga, esse amor, esse mundo que só pode ser vencido por mim, perder todo o dia
um pouquinho, para não se sentir dono de nada.
Estou no Rio, caminhando no calçadão de Copacabana, sentindo
o cheiro do mar, olhando para aquelas pessoas felizes, rindo, enamoradas. Abro
os olhos, estou aqui, ali e sozinho, sozinho com meus olhos fechados, sentindo
o calor do mundo, a rotina diária, o riso do outro, as palavras duras e o
abraço apertado.
Já se perguntou se todo o amor que você recebe você merece? E
o que você dá? Você sabe o que é o amor? Já amou ao ponto de se sentir feliz
por estar "em amor"? Não né? Por que quando se estar no amor, não se
tem proteções, tudo doe.
É... Eu sou um estranho, como as velhinhas que contavam hoje
quando deram o primeiro beijo, lembro que uma disse que ela chorou de tanta
felicidade que sentiu... Somos todos estranhos em busca de uma coisa que não
existe ou só existe quando estamos sós, consigo.
Obrigado por me fazer lembrar como é bom escrever e amar.
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