terça-feira, 20 de novembro de 2018

PRÓLOGO







ABRINDO OS OLHOS

Acordei, acordei agora. Olhei para os lados, sabe o que eu vi? Nada. Não vi nada, Nada. Um enorme vazio me abraça, vazio branco hospitalar, acéptico e tão nojento, tão passível! Cada vez que eu tento me levantar mais minhas pernas pesam. Parece que carrego nas costas cada rancor guardado por mais de cinqüenta anos, cinqüenta séculos, cinqüenta vidas, cinquenta reais. Um peso do mundo não mais suspenso em órbita, sujeito à sua própria gravidade, e que me coagula.

Quanto mais eu ando mais eu vou me perdendo a cada novo dia de trajetória de vida. Que me faz acreditar que tudo pode melhorar enquanto tudo mais piora. Piora mesmo, a cada novo dia mais pensamentos de morte rodeiam minha cabeça, mais pensamentos sombrios. Sombras estiradas no chão se espreguiçando com o passar do dia, se esticando com o movimento que o mundo faz, parecendo querer arrancá-las de mim, puxando pela outra ponta ..... sem resultado. Elas nunca largam meus tornozelos. Parado. Parei. Não tem como continuar a andar.

Fixei seus olhos perdidos em algum lugar do mundo que não sei ao certo qual é, admirei um túnel. Parei, parei. Gritei no fundo do túnel frases confusas de socorro, não tem mais lógica viver. Não tem matemática viver assim, com um passado que me aflora a cada dia novo que me atormenta. Velhas histórias, velhos casos, velho... É tudo velho, é tudo passado. Tudo cheio de pó, cheio de mofo. Cheio de tanta merda que quanto mais você se lembra mais você sente o odor. Ta cheirando? É esse o cheiro que você deve ter. Cheiro de merda.

SENTEI NA CAMA

Já pensou um pouco no céu? Um pouco do amor que me falta? Carinho, cafuné, colo, alguém que me diga os nomes dos passarinhos. Nem trepar eu consigo mais...sinto culpa. È tão complicado aquilo… Quero só que esse que está aqui deitado nessa cama, se levante e se vá, que parte rompendo tudo, até meu fígado.

Estou vivendo a perseguição da rotina, ele anda me perseguindo! Ele tem meu telefone? Ele tem? Casado? Casado? Quem? Ele é casado? Como ele é casado? Por que? Não... Por que? Alo? Alo? O que? O filho? Ameaças... Solta o canivete porra, solta o canivete Roberto, põe ele no chão, o Eduardo não ia gostar de te ver com ele se furando, não... Chega de furar…

FUI ATÉ O BANHEIRO

Eu vivo com medo. Ando na rua olhando para os quatro lados, para todas as pessoas, e pro céu e pro chão também. Sabe-se lá quando me cai um piano. Ou quando vou cair num buraco ou quando vou me afogar nessa privada, olha só esse corpo cheio de lama, olha só a gente, olha só você.

Tenho medo de que tirem a minha vida, mas não tenho de arrancá-la de mim. Sou senhor dela. Trago ela no cabresto, com navalha no pescoço! To sozinho, aqui dentro de casa, vendo um filme repetido, a porta tá batendo, é ele ou é ela. Quem será?

TOMEI BANHO E FUI PRO QUARTO ME TROCAR

Não tenho mais proteção, não tenho mais vida... Fugir vou fugir. Parei, parei... Gritei lá no fundo do túnel por socorro, nenhuma mão, nenhuma ajuda...nem pena de mim.

Deixa-me dormir aqui hoje? Por favor? Preciso de uma cama quente, lençóis limpos, travesseiro. A cabeça não funciona mais de tanto que ela já pensa, ela não para nem mais um segundo. Gira mais rápido que qualquer coisa, são tantos pensamentos confusos e rápidos que me perco em cada um deles...Cada um deles tem seu próprio jardim, com seu próprio labirinto. Destino. Quem foi que inventou os destinos? Quem é o mestre dos destinos, me explica, minha cara, meu caro. Você, a puta que o pariu, a tua mãe, o teu pai... Meus pais, esse bando de rola. Esses teus jardins devem ser feitos de paus rígidos e a ponto de encher de leite toda essa bobeira.

ESCOLHI A ROUPA

Você sabe o que é cafuné? Sabe o que é deixar alguém tocar a sua cabeça? O que você permite: Você permite ser amado? Não, claro que não. Você é um nojo, praticamente um projeto de semi Deus que ninguém entende. Sua voz é falsa, tão falsa como sua cabeça. Por que você acha que no meio de tantos, vão ouvir você? Você é oco e gente oca é bom de morrer. E o cafuné? Você sabe o que é cafuné? Movimentar os cabelos com as mãos, olhar diretamente nos olhos, se entregar, não, você não deve me tocar, eu não deixo.

ME TROQUEI E OLHEI O CELULAR


Ser gay é uma merda! Fazer amor tem cheiro de cocô, veja só. E se Deus não tem nada a ver com isso, é porque devo estar acima de Deus.

Quando eu vou poder amar? Se é pra amar que nós estamos aqui? Quando vou poder dar todo meu amor? O que o amor tem com toda essa merda que sinto dentro de mim? Quando vou poder enfim governar? Quando serei presidente da república, quando serei peão? Quando serei esterco? Quando vou pro caixão? Quando vou poder beijar? Quando vou parar de chorar quando transar? Quando a novela vai acabar? Quando o filme não me vai disparar todos esses gatilhos mais? Quando a fase vai passar? Fase? Quando? Nunca… nada acaba, é tudo um ciclo vicioso, sem fim…

A minha vontade é de acabar com tudo que eu tenho aqui, com tudo que eu posso um dia ter aqui, com a novidade que nunca aparece, onde estão as cartas? Onde está à volta? Não existe mais volta! Você avançou no sinal, ele é vermelho, seu carro anda, ele tem um vidro quebrado, você olha por essa janela quebrada, é embasada; Embasada no que? em quem? Ele avança nos sinais vermelhos, nenhum verde.

Mas mais uma vez o freio: a covardia.

SAI DE CASA PARA PEGAR O ELEVADOR, ELE NÃO CHEGA

Acabou, não preciso mais de roupa, não preciso mais de nada, sou eu nu agora olhando para você que está onde estiver esperando um pouco mais de compreensão, um pouco mais de atenção, um pouco mais de lealdade.

Ta vendo, eu to pelado? Inteiro para que você veja a verdade. Eu sou de verdade. Carne, osso e sentimentos, e o que você pode fazer com tanto sentimento? Despejá-los na água, imprestável ser humano que não sabe aproveitar o pobre momento que é o único de paz, o único de paz, o momento que eu, pelado, me entrego a você.

Duas pessoas que se gostam juntas, vivendo juntas. A nudez impressiona, mas a nudez hoje em dia é a falsa moralidade, falta de criatividade. O que você fará comigo? Vai gozar na minha cara? Vai dizer suas palavras cruéis? Vai abusar de mim como abusou desde sempre? Que vazio, que truculência, que cemitério que é meu corpo.

ENTREI NO ELEVADOR E ME OLHEI NO ESPELHO

Não me adianta mais berrar, a minha boca eu agora fecho, e o fim não é meu... Por que ninguém jamais vai me amar como eu amei, e nem vai sentir o que eu senti... Os sentimentos são vossos…

Mas mesmo assim com tantas questões e intrigas, fazem com que todos parem e muito pensem... e param para ver o corpo.A vida me vive ou eu vivo a vida ?As pessoas andam tanto e tão rápido, que quando você vê já chegou e não houve caminho, como aquele carro, como minha nudez hipócrita.

Mas é simples, o que você quer? Eu sei o que eu quero, eu quero… E o que você quer? Faça o que quiser, seja o que quiser.

SAI DO PRÉDIO

- Bom dia. Tudo bem? Ta tudo ótimo. Respondo isso automaticamente todos os dias para quem quer que seja, são as primeiras palavras que falo em horas. Ando caindo todo o dia no mesmo lugar, é uma viela da minha vida, quando eu caio eu procuro o joelho quebrado por que era de vidro Eu criei olheira, por que? Queria entender! Será o esforço para criar o debate que diz que eu sou eu mesmo e que ninguém pode mudar a minha capacidade de conseguir afastar as pessoas que mais me amam? Ou então seria o antidebate para citar o quanto eu gosto de ser seu e fazer quantas mil coisas que eu quiser querer?

Criei falsas mentiras sobre mim, eu sou a ilusão do dia, a ilusão que nasceu com o Sol para as pessoas gritarem, um prólogo do inferno, sem o Diabo. Só comigo. Sol enganador, que é luz e pai das sombras. E não se engane com a lua, pois quando pode faz suas sombras também, todos nós somos luz e sombras.

Olho agora mais longe, os gritos sufocados silenciando. E é duro viver sem eles, duro viver sozinho, duro atravessar um túnel de mais de dez mil quilômetros, a escuridão não cessa, não para, não diz. Silêncio.

ESTOU NA RUA PENSANDO ONDE IR

Quantas vezes eu vou ainda ter medo? Medo de sentir, medo de sair, medo... O medo faz com que o homem pare, mas um homem sem medo... seria capaz de tudo, tudo...até de morrer e não ser mais capaz de nada, de nada. Silêncio.

Preciso de amor, preciso me apaixonar, preciso ser alguém. Preciso encontrar um novo amor, trepar com a melhor amiga, amar o amigo, bater no amor, preciso matar, mudar, pensar, gozar no chão dessa praça, sentar nesse banco…

Vou te contar: hoje, andando sozinho, eu apanhei. Levei um tapa na cara e cai no chão. Não chorei, segurei, estanquei as lágrimas. Mas quem ama quer ser feliz e não um mártir.

ENTREI NO BANHEIRO MASCULINO DO SHOPPING

Sabe que às vezes eu me sinto perdido, sem ter pra onde correr, sem poder olhar nos olhos de um abraço protetor. Num abrigo de sal contra o vento. Eu moro em um abrigo, esse abrigo não tem parede, não tem nada, meus pés pesam como pedras.

Se proteger da chuva, se arrepender de gritar, saber pra onde se quer ir, saber para onde ficar, saber... O que é saber?

Sempre sou eu aqui com todo o mal do século, minha solidão absoluta, olhando parado para o quadro, quadro que nunca mais se move, tatuagem feita...em cadáver de uma menina.

Já te contaram que se você mudar o foco da dor a dor que mais doe fica esquecida? Nunca consegui fazer isso, as marcas ficam na vida e em mim como nódoas... feridas que não cessam nunca de sangrar, a minha maldade preferida, com direção de Tarantino.

Mexer no passado, revirar cartas e reler palavras...O atropelado: o sangue dispersa e a multidão estanca. Ver, ouvir, conversar. Meu sadomasoquismo particular. Quantas vezes você por dia já parou para pensar que você não é único nesse mundo, que pessoas dependem de você que você depende de pessoas? Não sei… Quantas vezes você já pensou em se contaminar por essas pessoas que estão em sua volta.

SAI DO BANHEIRO GOZADO

Um anjo caído, um prólogo.

Sabe? É como eu dizer aos céus que está tudo bem quando tudo está prestes a cair, a conta do banco ta sem pagar, o meu filho doente, minha vida acabada, é como eu ai sentado, assistindo a tudo, não entendo merda nenhuma, mas mesmo assim me fingindo de intelectual, entendido e dizendo que entendi tudo, criando explicações que não existem para que possa me sentir mais importante, mais sabido. Só que no fim da noite, quando eu to em casa, prestes a dormir meu ultimo pensamento é de que eu sou o moleque estúpido, feio e preterido da sala de aula. Eu sei disso. Eu não mudei nada.

O moleque tentando desfazer o nó que ele mesmo criou, a carência sem fim como túnel, a vontade de morrer e não poder, o pensamento sem fim de saber que se pode atirar do prédio que sobe e não ter culpa. Eu não tenho culpa de morrer. Sou alcoólatra. Sinto cheio de cerveja de longe.

ANDO PELAS RUAS DO BAIRRO SEM RUMO

Não entender faz parte, deixa acontecer, no fim... O fim? Capaz que tudo faça algum meio sentido…

Mas meio? Pra que meio sentido? Por que não pode ser tudo inteiro? Um terço disso, outro daquilo? Daquilo o que? Se nunca vai ver nada na totalidade? É como trabalhar numa linha de produção (e eu já fiz isso): hora os pneus, hora o pára choque, hora a rebimboca, hora parafuseta. Isso aqui serve pra quê? Um carro? Mas que carro? Posso dar uma voltinha? Onde esse carro me levaria?

ENTREI EM UMA CAFETEIRA E OLHO O CARDÁPIO

Queria calar meu passado com um trago de cachaça. Queria transformar meu futuro com alguns trocados à uma mãe Terezinha. Dizer aos tolos que me perseguem que a minha vida é a minha vida e dizer também que as escolas são minhas, e os cemitérios, e os hospitais e as delegacias. Minhas crianças, meus mortos, meus presos, putas, rolas, infantarias. Faço só o que eu quiser, o livro é meu, e se é assim, e se é triste o fim, uma pena, é por que a pena é minha.. A teimosia não gerou nada além do tema cabeça-dura, mas e ai? E faço como eu quiser, na hora que eu quiser e assim, rasgando meu papel, desejando falar mais e falar menos vou terminando...mais folhas no lixo feito bolinhas do que entre as primas vitoriosas da resma impressa sobre a escrivaninha.

Uma mulher na mesa a frente chora, ela perdeu seu amigo. As pessoas ao redor colocam fones para silenciar aquele choro, eu me levanto e vou até onde ela está, lhe dou um abraço e em silêncio, volto ao meu lugar. Crio palavra de ordem aos corações partidos. Peço um café, meu coração acelera, minha vontade é de despedaçar todos os bolso da vitrine.

PAREI PARA TOMAR UM CAFÉ COM POUCOS TROCADOS

Eu amei e fui amado, não fui amado não… fui usado e eu sei disso… e agora pago a conta. As palavras calaram. Chega. To no fim. Escreve ai as últimas linhas...Já que deseja tanto essa história pra ti, se comprometa no próximo capítulo. Escreva você meu epílogo. Dessa desgraça toda que deixo herança aqui na terra… E que não verei crescer e ter filhos.

Mudar, mudar... Andar... Mudar, mudar é preciso a cada dia a cada noite a cada tragédia a cada pensamento, a mudança, a transsubstanciação, a metamorfose. A evolução da Alma humana e a evolução criada pela a mente estacionada do homem nu, ali, olhando para o mar, que é só água, um nada sem poesia, um merda, mas alguém que pode ser alguém. Um mar que pode virar uma música

A única coisa que eu ainda sei dizer... depois de tudo... é que gostaria muito de dizer, é só desculpa. Mas mesmo assim, sem minha boca, o que tem olhos no mundo grita, com todas as poucas e grandes e dúbias e pífias e sinceras palavras: que eu te amo.

SAI DA LANCHONETE E ENCONTREI ALGUÉM

Eu te amo mesmo, pois eu sou amor, mesmo oco, eu sou amor.



B.O

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