quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Chorei, assim, chorei...


Magali era aquela menina que não arredava o pé enquanto não conseguia alguma coisa. Me lembro, claramente de Magali, ali... Sentada. Esperando sua mãe voltar... mas ela não ia voltar... Nem ela e nem seu pai. Magali, tinha 8 anos quando eu, Cira, peguei ela para criar. Lembro que a Magali era magra, alta, cabelos lisos e escuros e ficava sempre esperando sua mãe voltar para um dia vir busca-la. Sabe, lembro de que era difícil leva-la a escola ou então há outros lugares, medico então? Meu Deus! Seus pais faleceram em um acidente horrível de carro, uma tragedia. Foi uma tarde de domingo que então eu tive uma ideia. Mandaria cartas para ela como fosse seus pais e pedia que ela não esperasse mais, porém que olhasse sempre as estrelas do céu para que lembrasse dos seus pais e que eles sempre a escreveriam para ela, até sua morte. Ela lia, re-lia, olhava, gritava, sorria e me olhava.
                Quando a Magali me olhava, parecia que ela sabia, ela sabia que era eu que escrevia as cartas mas mesmo assim, as guardava e sempre antes de dormir me pedia para leva-la ao quintal para ver o céu. Ela amava ver o céu. Dizia que era a ligação dela com o mundo, com seus pais e comigo. Magali era essa menina linda, que gostava de se vestir bem, se importava com o amigo, sofria quando era magoada, não entendia essa coisa do certo ou errado, do que pode e do que não pode. Quando fecho meus olhos, eu lembro do seu olhar, me olhando, sabida! Ela sabia!
                Os anos se passaram e ela fez 18 anos e eu já era uma velha senhora e cansada, mesmo assim, mandava as cartas sempre. A letra não era mais a mesma, era tremida, minhas mãos não tinham mais as mesmas forças. Ela fez então 26, arranjou um bom marido e se casou, a frequência que escrevia era menor, cheguei a chorar quando descobri uma doença que me faria não conseguir mais escrever. Aos 30, Magali tinha dois filhos, meus dois netos Beto e João, já internada eu recebi uma carta, fora do envelope não tinha nenhuma informação, do que se tratava? Chamei a enfermeira aos berros, ela leu: Mãe, quando você encontrar minha outra mãe e meu pai, diga que as cartas que você escreveu me fizeram viver para sempre” e assim sabendo disso, lembrei do seu olhar,  fechei meus olhos e descansei, até virar uma estrela.

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